segunda-feira, 16 de junho de 2014

ERROS DA APURAÇÃO JORNALÍSTICA

Crispiano Filho

Ética, comprometimento com a verdade, apuração dos fatos são pontos cruciais que o jornalismo deve seguir, é muito comum ouvir tais palavras nos comerciais de telejornais, mas quando essas normas básicas e fundamentais não são seguidas inúmeros prejuízos são provocados, irreparáveis em vários casos. Vamos citar alguns exemplos onde a imprensa foge ao seu papel e assume a função de julgar, condenando sumariamente os acusados. Ou quando sua parcialidade prejudica o desenrolar dos casos ao colocar a opinião pública contra os suspeitos.

Willian Mello De Souza

O primeiro exemplo que vou abordar ficou conhecido como caso de Catanduva Willian Mello de Souza e seu tio o borracheiro José Barra Nova De Mello o Zé da Pipa foram acusados de molestar pelo menos 60 crianças de 04 a 12 anos. Uma série de declarações infundadas da promotoria e amplamente divulgadas pela imprensa, em vários casos feitas de forma sensacionalista e sem qualquer comprovação jogaram a opinião pública contra os réus.
Após passar dois anos e nove messes presos Willian Mello de Souza foi absolvido a justiça o declarou inocente.
Parte da imprensa que o acusava de monstro molestador de crianças ao divulgar sua absolvição ao invés de ressaltar a sua inocência pouco repercutiu o veredito.
Um grande jornal de circulação nacional noticiava a absolvição repetindo todas as acusações, o ministério público não quis se pronunciar e minimizou a notícia informando segundo ele que (o caso era antigo e não merecia novos comentários). Os veículos ressaltavam mais as nunca provadas acusações que o veredito de inocente.

O segundo e último caso a ser abordado trata-se de um dos maiores exemplos de erro da apuração jornalística do nosso país. Conhecido como caso escola base.
Vamos relembrar o caso, em março de 1994 duas mães de alunos da escola foram a 6º delegacia de polícia na zona Sul de são Paulo e prestaram queixa denunciando os proprietários da escola e pais de alunos que segundo elas promoviam orgias sexuais com as crianças. Segundo as mães os donos da escola, Icushiro e aparecida Shimada os sócios Maurício e Paula Alvarenga e os pais de alunos Saulo e, Mara Gomes seriam os responsáveis pelos abusos.


O responsável pelo caso era o delegado Edélson lemos que encaminhou a crianças para o Instituto Médico Legal (IML) e conseguiu um mandato de busca e apreensão, onde nada foi encontrado.
Na parte da tarde a rede Globo foi chamada pelos pais.
Posteriormente o IML divulgou o laudo que futuramente seria considerado como inconclusivo
.
Referente ao laudo nº 6.254/94 do menor F.J.T. Chang, BO 1827/94, informamos que o resultado do exame é compatível para a prática de atos libidinosos.
Dra. Eliete Pacheco, setor de sexologia, IML, sede.
Isso foi o suficiente para o delegado Edélson Lemos declarar a culpa dos acusados e iniciar uma série de declarações equivocadas a mídia, que explorou a imagem das crianças e dos pais como vítimas, e fez a opinião pública dar um veredito de culpados aos envolvidos. A história dos pedófilos que abusavam de criancinhas já havia se tornado uma verdade absoluta para as pessoas. 

A primeira manchete saiu no jornal nacional de 29 de março de 1994 onde foi divulgava amplamente uma série de acusações infundadas que foram seguidas por outros veículos de comunicação.
A precipitação da impressa somado ao despreparo do delegado que sentia muito conforto em dar seguidas declarações à imprensa, mesmo sem apura-las podem ser apontadas como causa da tragédia. O julgamento prematuro dos envolvidos resultou no depreda mento da base por três vezes, pichação dos muros além das prisões sem qualquer prova.
A falta de ética e briga pela atenção do público impulsionou a história. O delegado falastrão foi afastado do caso e uma nova investigação passou a ser feita. Mas a impressa continuou a sequência de falsas informações e associando outros incidentes ao caso. Como a prisão de um norte americano que foi encontrado com material erótico em sua casa, ou a notícia que crianças eram abusadas em uma Kombi que fazia o transporte das mesmas. Ambas notícias negadas pela polícia.
No final de junho o novo delegado responsável pelo caso Gerson De Carvalho convocou a imprensa para informar o arquivamento do inquérito. Ele informou que não ousava dizer que as crianças não teriam sido abusadas, porém se houve abuso teria ocorrido em outro local com outros protagonistas.Alguns dos envolvidos ainda movem processos contra o estado por danos morais. Também foram processados os veículos Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, Globo, SBT, Record, Rádio e TV Bandeirantes, Veja e IstoÉ.

As marcas desse tipo de erro acompanham as vítimas injustiçadas pelo resto da vida. A imprensa ao faltar com a ética e com a verdade se torna tão criminosa quanto qualquer outro delinquente. Manchando de forma perpetua a honra dos acusados. Após o último caso várias mudanças foram tomadas pelos veículos de comunicação padrões éticos passaram a ser cobrados com maior rigor, a impressa brasileira amadureceu muito após esse evento procurando se precaver para que novos erros assim não voltem a acontecer.

fontes: Documentário O Caso Escola Base  (2004 ) 
    Site: http: www.unicos.cc
                        Casa Dos Focas       
                        Diário Do Poder    
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário