quinta-feira, 15 de maio de 2014

PERFIL DE JORNALISTA -TEO TAVEIRA, atual correspondente internacional da Rede Record

Por: Jéssica Alves

O quadro "Perfil Jornalista” traz um bate-papo especial com profissionais atuantes da vasta área do jornalismo que compartilham sua experiência, rotina, dificuldades e benefícios de sua carreira que, antes de qualquer coisa, é executada com amor à profissão. A entrevista que veio para inaugurar esse quadro fica por conta do grande jornalista Teo Taveira, atual correspondente internacional (Lisboa/Portugal) da Rede Record.
Teo Taveira, paulista de 27 anos foi repórter na Record Goiás e se destacou com a cobertura do acidente de Pedro, filho do cantor Leonardo; pouco depois foi convidado e escolhido para ser correspondente da emissora em Portugal na Europa, onde faria parte de uma seleta equipe de 10 representantes da emissora com nomes como Heloísa Vilela e André. Hoje, com pouco mais de 7 meses atuante no cargo, Teo se dispôs a contar um pouco sobre sua experiência, satisfação e as problemáticas que giram em torno de sua atual função como correspondente.

“EU NÃO ‘NASCI PRA SER JORNALISTA’, NÃO SOU PREDESTINADO, MAS LUTO TODOS OS DIAS PELO QUE EU QUERO”
Foto publicada nos arquivos pessoais do Teo Taveira (rede social)

Amor à Notícia: Para começar, gostaria de saber se você se imaginava hoje aos 27 anos trabalhando como correspondente internacional. Como foi ser contratado pela emissora onde você já possui uma trajetória sendo construída? Já havia sido algo (sonho) premeditado por você de alguma forma?
Teo: Sinceramente, nunca imaginei ser correspondente internacional, nem imaginava me tornar repórter de televisão. Minha ideia era trabalhar em algum impresso; olhava para os prédios do Estadão e da Folha e tinha arrepios. Isso mudou logo quando comecei um estágio na minha primeira redação de TV, em Campinas. Fiquei duas semanas lá dentro, até o diretor de jornalismo olhar pra mim e dizer: “Corta esse cabelo e tira esse brinco, amanhã você vai para externa. Acho que leva jeito pra coisa”. Foi há 6 anos.
A notícia de vir pra cá foi igualmente surpreendente. Estava em casa, dormindo, quando meu telefone toca. Era um dos diretores de jornalismo da Record Nacional, Thiago Contreira. - Oi, Teo. Como vai? Estamos com uma vaga em Lisboa, no lugar do Mauro Tagliaferri. Quer ir? “Temos planos de futuro pra você.” - Imagina? Aquilo, sim, foi arrepio.
Amor à Notícia: Quais foram os principais desafios desse cargo? Como foi sua adaptação à cultura? Você já tinha domínio da língua ou se tornou mais um desafio para você?
Teo: Quanto à língua, não houve problemas. O nosso português tem só algumas diferenças com o de Portugal, tudo é bastante compreensível. Falo inglês, que é fundamental pro cargo. Quanto à cultura, existem sim diferenças importantes entre os europeus e os brasileiros. Eles não respondem às demandas das redações com a mesma agilidade. Não existe pauta sem marcação. Eles não gostam de coisas “em cima da hora”. Depois que entendi esse timing, ficou tudo resolvido.
Amor à Notícia: Qual a importância de um estudante de jornalismo investir em outros idiomas?
Teo: Em poucas palavras: fundamental. Eu não estaria aqui se não falasse inglês. Não existe um âncora de um jornal nacional que não fale fluentemente, pelo menos, duas línguas – além, claro, do bom português.
Amor à Notícia: Como funciona a rotina de um correspondente internacional? Trabalho em dobro?
Teo: Em triplo, quádruplo! (risos) Em uma redação convencional, mesmo fora do eixo RJ-SP, existe uma estrutura bem maior, formada por estagiários, ronda, produtores, editores e repórteres. O trabalho é mesmo em equipe. Aqui, não. Tudo que é enviado ao Brasil depende exclusivamente do meu trabalho e do outro correspondente, o repórter cinematográfico Fábio Oliveira. Na correspondência, temos que fazer acontecer, porque a responsabilidade é só nossa.
Amor à Notícia: Qual a importância de interagir com a imprensa local do País?
Teo: Muito importante e motivador. As diferenças culturais ficam bem nítidas também na forma como eles trabalham. Isso é bem legal de perceber e a ajuda deles, em certos momentos, é importante demais. Eles são daqui, entendem melhor o mecanismo local, sabem onde e como procurar as coisas. Podem dar boas dicas. 

Se relacionar bem com colegas de trabalho, de qualquer veículo, em qualquer lugar, é muito importante e pode ser determinante entre o sucesso ou não do seu VT.
Amor à Notícia: Através da sua experiência no local, como você definiria a prática jornalística entre brasileiros e portugueses? Quais são as principais diferenças que você percebe?
Teo: A maior diferença é o tempo de resposta dos órgãos às solicitações das redações. Aqui tudo demora mais. Não só em Portugal, mas em toda a Europa. Outro ponto importante é que aqui não existe tanta exposição quanto no Brasil. Se alguém comete um crime, não vai ser exposto na TV antes do julgamento, como acontece aí. Até porque, claro, o índice de criminalidade é infinitamente menor.
Amor à Notícia: Quais os riscos que giram em torno desse trabalho em sua opinião como profissional da área?
Teo: Pra mim, o maior risco é errar, contar uma história diferente do real e me perder nas informações imprecisas e acabar prejudicando a vida de alguém. Esse é, pra mim, o maior cuidado que o repórter deve ter.
Amor à Notícia: Qual o seu sentimento como pessoa e repórter ao divulgar o último ocorrido (29/03) do jogo entre Espanyol e Barcelona que envolveu racismo contra os jogadores brasileiros Danilo Alves e Neymar no lance que deu origem ao gol de Messi?
Teo: Honestamente, não acredito que houve provas suficientes de racismo naquele fato específico. Tanto que a imprensa européia optou por não noticiar. Mas qualquer caso de discriminação me comove e revolta. Não consigo acreditar que, em pleno século 21, existam pessoas que se julguem melhores que outras por terem peles, crenças, ou condições sociais diferentes. Temos, como formadores de opinião, a missão perpétua de lutar contra isso.
Amor à Notícia: O tempo de trabalho corresponde ao tempo de aprendizado? Ou a carga de experiência para você vem antes do tempo?
Teo: Virei correspondente há sete meses. Sou novo para cargo, normalmente correspondentes são pessoas mais experientes, com mais tempo de vivência jornalística em seus países de origem. Não é meu caso, sou formado só ha seis anos. Mas, ao contrário de outras emissoras, a Record resolveu apostar em um novo perfil para os seus repórteres internacionais. Os diretores querem gente nova, mais comprometida e apta a acumular funções. Como eu disse -Aqui fazemos várias coisas ao mesmo tempo.
Amor à Notícia: Como fica o lado pessoal e familiar em meio aos contratempos da profissão? Tem como arrumar um tempinho para matar a saudade da família?
Teo: Essa é, disparada, a parte mais difícil. Para matar a saudade, só através do Skype, Facetime etc. Ir ao Brasil? Só nas férias. Mas dá pra receber visitas, e isso ajuda demais.
Amor à Notícia: Quais os benefícios dessa profissão que o incentiva a se manter nesse meio?
Teo: Tesão! É o maior benefício dessa profissão. Fazer algo que você ama não tem preço, é bom demais. Mas é muito sacrificante em vários momentos também, precisamos estar sempre prontos a abrir mão de muita coisa.
Amor à Notícia: Por quanto tempo você almeja vivenciar essa profissão? Você já visiona outros países além de Portugal?
Teo: O tempo como correspondente depende da vontade da minha empresa. Eu quero muito continuar fora do país enquanto achar que está sendo bom para minha carreira e para minha vida. Por enquanto, estou muito feliz com mais essa escolha.
Amor à Notícia: Vale a pena ser correspondente internacional?
Teo: Vale! As experiências profissionais e pessoais adquiridas fora do seu país natal são incríveis pra vida de qualquer um. Jornalista ou não.
Amor à Notícia: Para finalizar, gostaria que você deixasse uma mensagem para os alunos de jornalismo da Faculdade Sul-Americana (FASAM) entre outros alunos leitores do blog que têm o sonho de um dia se tornar correspondente internacional.
Teo: Costumo dizer que a distância entre nós, jornalistas de TV, e vocês, estudantes, está apenas em poucos anos de diploma e alguma experiência. Digo com toda sinceridade: não me acho diferente de vocês. Me lembro – e faz pouco tempo – de quando ia às aulas da faculdade (nem todas, claro) e sonhava em ser alguém no jornalismo. Não que eu já me ache “alguém”, mas pra conquistar o que conquistei até agora, a receita foi só dedicação. Não é um dom de Deus, tipo Neymar com a bola de futebol.
Eu não “nasci pra ser jornalista”, não sou predestinado, mas luto todos os dias pelo que eu quero. Na faculdade, procurei estágios, se o sindicato me proibia eu achava alguma redação que não respeitava as leis. Não importava. E não importa. Quero aprender, aprender e aprender, custe o que custar. E acho que vou querer o mesmo quando for um jornalista “veín”.
Nunca olhem pra alguém na TV e digam: “nunca vou chegar lá”. Se vocês fazem por onde, o “lá” pode simplesmente cair no colo, quando menos se espera.

Beijão, gente!


PS.: Saudade de Goiânia – não tem lugar na Europa melhor que essa terra no coração do Brasil.

Eu, repórter Jéssica Alves e toda equipe do Amor á Notícia agradecemos a disponibilidade e simpatia do jornalista Teo Taveira em responder com tamanha dedicação ao bate papo especial para o nosso blog, em meio a muita correria e muito amor à notícia. Estamos gratos pela sua colaboração.

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