O quadro "Perfil Jornalista” traz um
bate-papo especial com profissionais atuantes da vasta área do jornalismo que
compartilham sua experiência, rotina, dificuldades e benefícios de sua carreira
que, antes de qualquer coisa, é executada com amor à profissão. A
entrevista que veio para inaugurar esse quadro fica por conta do grande jornalista
Teo Taveira, atual correspondente internacional (Lisboa/Portugal) da Rede
Record.
Teo Taveira, paulista de 27 anos foi
repórter na Record Goiás e se destacou com a cobertura do acidente de Pedro,
filho do cantor Leonardo; pouco depois foi convidado e escolhido para ser
correspondente da emissora em Portugal na Europa, onde faria parte de uma
seleta equipe de 10 representantes da emissora com nomes como Heloísa Vilela e
André. Hoje, com pouco mais de 7 meses atuante no cargo, Teo se dispôs a
contar um pouco sobre sua experiência, satisfação e as problemáticas que giram
em torno de sua atual função como correspondente.
“EU NÃO ‘NASCI PRA
SER JORNALISTA’, NÃO SOU PREDESTINADO, MAS LUTO TODOS OS DIAS PELO QUE EU
QUERO”
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Foto publicada nos arquivos pessoais do Teo Taveira (rede social) |
Amor à Notícia: Para começar, gostaria de saber se
você se imaginava hoje aos 27 anos trabalhando como correspondente
internacional. Como foi ser contratado pela emissora onde você já possui uma
trajetória sendo construída? Já havia sido algo (sonho) premeditado por você de
alguma forma?
Teo: Sinceramente, nunca
imaginei ser correspondente internacional, nem imaginava me tornar repórter
de televisão. Minha ideia era trabalhar em algum impresso; olhava para os prédios
do Estadão e da Folha e tinha arrepios. Isso mudou logo quando comecei um estágio na
minha primeira redação de TV, em Campinas. Fiquei duas semanas lá dentro, até o
diretor de jornalismo olhar pra mim e dizer: “Corta esse cabelo e tira esse
brinco, amanhã você vai para externa. Acho que leva jeito pra coisa”. Foi há 6
anos.
A notícia de vir pra
cá foi igualmente surpreendente. Estava em casa, dormindo, quando meu telefone
toca. Era um dos diretores de jornalismo da Record Nacional, Thiago Contreira.
- Oi, Teo. Como vai? Estamos com uma vaga em Lisboa, no lugar do Mauro
Tagliaferri. Quer ir? “Temos planos de futuro pra você.” - Imagina? Aquilo,
sim, foi arrepio.
Amor à Notícia: Quais foram os principais desafios
desse cargo? Como foi sua adaptação à cultura? Você já tinha domínio da língua
ou se tornou mais um desafio para você?
Teo: Quanto à língua, não
houve problemas. O nosso português tem só algumas diferenças com o de Portugal,
tudo é bastante compreensível. Falo inglês, que é fundamental pro cargo. Quanto
à cultura, existem sim diferenças importantes entre os europeus e os
brasileiros. Eles não respondem às demandas das redações com a mesma agilidade.
Não existe pauta sem marcação. Eles não gostam de coisas “em cima da hora”. Depois
que entendi esse timing, ficou tudo resolvido.
Amor à Notícia: Qual a importância de um estudante
de jornalismo investir em outros idiomas?
Teo: Em poucas palavras:
fundamental. Eu não estaria aqui se não falasse inglês. Não existe um âncora de
um jornal nacional que não fale fluentemente, pelo menos, duas línguas – além,
claro, do bom português.
Amor à Notícia: Como funciona a rotina de um
correspondente internacional? Trabalho em dobro?
Teo: Em triplo,
quádruplo! (risos) Em uma redação
convencional, mesmo fora do eixo RJ-SP, existe uma estrutura bem maior, formada
por estagiários, ronda, produtores, editores e repórteres. O trabalho é mesmo em
equipe. Aqui, não. Tudo que é enviado ao Brasil depende exclusivamente do meu
trabalho e do outro correspondente, o repórter cinematográfico Fábio Oliveira.
Na correspondência, temos que fazer acontecer, porque a responsabilidade é só
nossa.
Amor à Notícia: Qual a importância de interagir com
a imprensa local do País?
Teo: Muito importante e
motivador. As diferenças culturais ficam bem nítidas também na forma como eles
trabalham. Isso é bem legal de perceber e a ajuda deles, em certos momentos, é
importante demais. Eles são daqui, entendem melhor o mecanismo local, sabem
onde e como procurar as coisas. Podem dar boas dicas.
Se relacionar bem
com colegas de trabalho, de qualquer veículo, em qualquer lugar, é muito
importante e pode ser determinante entre o sucesso ou não do seu VT.
Amor à Notícia: Através da sua experiência no local,
como você definiria a prática jornalística entre brasileiros e portugueses?
Quais são as principais diferenças que você percebe?
Teo: A maior diferença é o
tempo de resposta dos órgãos às solicitações das redações. Aqui tudo demora
mais. Não só em Portugal, mas em toda a Europa. Outro ponto importante é que aqui não existe tanta exposição quanto no Brasil. Se alguém
comete um crime, não vai ser exposto na TV antes do julgamento, como acontece
aí. Até porque, claro, o índice de criminalidade é infinitamente menor.
Amor à Notícia: Quais os riscos que giram em torno
desse trabalho em sua opinião como profissional da área?
Teo: Pra mim, o maior risco é errar,
contar uma história diferente do real e me perder nas informações imprecisas e acabar prejudicando a vida de alguém. Esse é, pra mim, o maior cuidado que o
repórter deve ter.
Amor à Notícia: Qual o seu sentimento como pessoa e
repórter ao divulgar o último ocorrido (29/03) do jogo entre Espanyol e
Barcelona que envolveu racismo contra os jogadores brasileiros Danilo Alves e
Neymar no lance que deu origem ao gol de Messi?
Teo: Honestamente, não
acredito que houve provas suficientes de racismo naquele fato específico. Tanto
que a imprensa européia optou por não noticiar. Mas qualquer caso de discriminação
me comove e revolta. Não consigo acreditar que, em pleno século 21, existam
pessoas que se julguem melhores que outras por terem peles, crenças, ou
condições sociais diferentes. Temos, como
formadores de opinião, a missão perpétua de lutar contra isso.
Amor à Notícia: O tempo de trabalho corresponde ao
tempo de aprendizado? Ou a carga de experiência para você vem antes do tempo?
Teo: Virei correspondente
há sete meses. Sou novo para cargo, normalmente correspondentes são pessoas mais
experientes, com mais tempo de vivência jornalística em seus países de origem.
Não é meu caso, sou formado só ha seis anos. Mas, ao contrário de
outras emissoras, a Record resolveu apostar em um novo perfil para os seus
repórteres internacionais. Os diretores querem gente nova, mais comprometida e
apta a acumular funções. Como eu disse -Aqui fazemos várias coisas ao mesmo
tempo.
Amor à Notícia: Como fica o lado pessoal e familiar
em meio aos contratempos da profissão? Tem como arrumar um tempinho para matar
a saudade da família?
Teo: Essa é, disparada, a
parte mais difícil. Para matar a saudade, só através do Skype, Facetime etc. Ir
ao Brasil? Só nas férias. Mas dá pra receber visitas, e isso ajuda demais.
Amor à Notícia: Quais os benefícios dessa profissão
que o incentiva a se manter nesse meio?
Teo: Tesão! É o maior
benefício dessa profissão. Fazer algo que você ama não tem preço, é bom demais.
Mas é muito sacrificante em vários momentos também, precisamos estar sempre prontos a abrir mão
de muita coisa.
Amor à Notícia: Por quanto tempo você almeja
vivenciar essa profissão? Você já visiona outros países além de Portugal?
Teo: O tempo como
correspondente depende da vontade da minha empresa. Eu quero muito continuar
fora do país enquanto achar que está sendo bom para minha carreira e para minha
vida. Por enquanto, estou muito feliz com mais essa escolha.
Amor à Notícia: Vale a pena ser correspondente
internacional?
Teo: Vale! As experiências
profissionais e pessoais adquiridas fora do seu país natal são incríveis pra
vida de qualquer um. Jornalista ou não.
Amor à Notícia: Para finalizar, gostaria que você
deixasse uma mensagem para os alunos de jornalismo da Faculdade Sul-Americana
(FASAM) entre outros alunos leitores do blog que têm o sonho de um dia se
tornar correspondente internacional.
Teo: Costumo dizer que a
distância entre nós, jornalistas de TV, e vocês, estudantes, está apenas em
poucos anos de diploma e alguma experiência. Digo com toda sinceridade: não me
acho diferente de vocês. Me lembro – e faz pouco tempo – de quando ia às aulas
da faculdade (nem todas, claro) e sonhava em ser alguém no jornalismo. Não que eu já
me ache “alguém”, mas pra conquistar o que conquistei até agora, a receita foi
só dedicação. Não é um dom de Deus, tipo Neymar com a bola de futebol.
Eu não “nasci pra ser
jornalista”, não sou predestinado, mas luto todos os dias pelo que eu quero. Na faculdade,
procurei estágios, se o sindicato me proibia eu achava alguma redação que não
respeitava as leis. Não importava. E não importa. Quero aprender, aprender e
aprender, custe o que custar. E acho que vou querer o mesmo quando for um
jornalista “veín”.
Nunca olhem pra
alguém na TV e digam: “nunca vou chegar lá”. Se vocês fazem por onde, o “lá”
pode simplesmente cair no colo, quando menos se espera.
Beijão, gente!
PS.: Saudade de
Goiânia – não tem lugar na Europa melhor que essa terra no coração do Brasil.
Eu, repórter Jéssica Alves e toda
equipe do Amor á Notícia agradecemos a disponibilidade e
simpatia do jornalista Teo Taveira em responder com tamanha dedicação ao bate
papo especial para o nosso blog, em meio a muita correria e muito amor à
notícia. Estamos gratos pela sua colaboração.